Em setembro de 2019, usei esse espaço para cobrar Anahí sobre uma posição em relação ao futuro da carreira. À época, sumida das redes sociais, ela era alvo de rumores de cárcere privado e os fãs clamavam por notícias de um comeback ou, para acabar a agonia, do adeus dos palcos.
Muita coisa aconteceu depois daquele episódio bizarro. Teve a live de 2020 e o lendário reencontro do RBD na Soy Rebelde Tour, que desembarcará no Brasil em novembro para o encontro derradeiro com a eterna Mia Colucci. Agora, Anahí faz questão de frisar que a turnê representa “sua última dança” e que o fim da série de shows com Dulce María, Maite Perroni, Christian Chávez e Christopher Uckermann será também o ponto final em sua vida artística.
Anahí fez sua escolha. Quer se dedicar integralmente à família, tal e qual após a maternidade. Mais do que um direito, é absolutamente compreensível que aos 40 anos, com a vida financeira estabilizada, ela tenha decidido viver. Afinal, é sempre importante ressaltar que a pressão estética descabida desse mundo quase lhe tirou a vida no passado.
Mas, com todo respeito do mundo por sua escolha, do lado de cá a gente lamenta.
A eterna Mia Colucci, dona de um carisma ímpar, é uma artista maiúscula. Seus dois álbuns publicados após a era Rebelde são a prova disso: Mi Delírio (2009) e Inesperado (2016) serviram vocais, hits, letras e histórias, mas ficaram devendo no trabalho promocional. Faltou a tão sonhada tour solo. Faltaram os prêmios que, inevitavelmente, chegariam com o passar dos anos.
O segundo álbum, sobretudo, mostrava uma artista alinhada com o mercado discográfico, que tateava o gênero urbano e se renovava em busca de um público além daquele que acompanhava a saga da Elite Way School. Amnesia e Rumba não deixam ninguém mentir.
As performances atuais na Soy Rebelde Tour são a prova de que havia um longo caminho a trilhar.
Mas muito além das lamentações, o adeus da Anahí deixa uma reflexão importante: ela entra na fila de nomes como Daddy Yankee, Enrique Iglesias e, mais recentemente, Nicky Jam, que anunciaram sua retirada da indústria fonográfica de maneira precoce. Se para eles, homens, a cobrança por resultados foi esgotante, para ela, mãe, mulher, empresária, seria desumano e severo.
Às mulheres, não nos é dado o direito de envelhecer. Com coragem, Anahí optou pelo direito de escolher.
Decidiu dizer adeus no auge, na maior turnê da carreira, ao lados dos amigos de toda uma vida. Vai curtir os filhos, apoiar o marido, Manuel Velasco, viajar, tomar seus vinhos, ser feliz longe dos holofotes que tanto lhe roubaram saúde mental na juventude. Antes de julgarem a escolha pela vida “do lar”, é preciso apontar os dedos ao sistema que sufoca, agride, cansa e afasta.
Ao dizer adeus, Anahí se torna exemplo de limites e coragem.
É cedo demais, mas a gente entende.