Com a divulgação das datas de início das vendas e dos valores dos ingressos para os dois shows do Måneskin no Brasil, em novembro, veio a chuva de críticas nas redes sociais: o preço está altíssimo para os locais em que os roqueiros irão se apresentar – Qualistage, no Rio de Janeiro, onde o bilhete varia de R$ 200 a R$ 760, e Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas), com variação de R$ 225 a R$ 850.
Não que a Rush! World Tour não valha cada centavo. Quem esteve nas apresentações dos italianos por aqui no ano passado sabe que cada centavo pago é investimento, eles valem a pena.
A questão é que pós-pandemia, justamente quando os bolsos estão mais quebrados, as organizadoras perderam a mão na precificação. Querem exemplos? Na mesma casa paulistana, em 2017, o show de Enrique Iglesias estava tabelado entre R$ 160 a R$ 480. Um ano depois, no mesmo local, Luis Fonsi cobrou módicos R$ 60 a R$ 200.
No que provavelmente foi o último show internacional da casa antes da Covid-19 parar tudo, a apresentação de Eros Ramazzotti saiu entre R$ 170 a R$ 650.
A gente tenta, então, buscar explicações na economia: a taxa de inflação registrada em 2020 foi de 4,52%, superior ao centro da meta fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e superior também à taxa de 2019 (4,31%). A inflação em 2021 foi de 10,06%, 5,54 pontos percentuais superior à verificada no ano anterior. E em 2022: 5,79%. Nenhum salário foi reajustado nesses índicees.
Os números dão um pouco de sentido à alta, mas no cenário atual seria preciso bom senso para não arrebentar com a economia dos fãs. O fanático do RBD pagou entre R$ 210 a R$ 850 para ver o retorno do grupo no Allianz Parque. Portanto, Måneskin volta ao Brasil com preço do estádio em que até Harry Styles saiu mais barato: R$ 164 e R$ 751.
Outro ex-One Direction, Louis Tomlinson, se apresentou no Espaço Unimed em maio do ano passado com ingressos entre R$ 200 e R$ 400, provando que é possível trazer artistas internacionais a preços mais acessíveis.
A culpa, obviamente, não é da banda. Os artistas não têm ingerência sobre o valor que será cobrado dos fãs: o que importa para eles é que seu cachê e demais exigências sejam financeiramente cobertos. E, nesse mercado, as negociações são feitas em dólar, cinco vezes mais do que a moeda nacional.
A logística da indústria de entretenimento é cara, mas age como se o antes e o “depois” (entre muitas aspas, pois não acabou, só arrefeceu em razão da vacinação) da pandemia fosse um marco para onerar de maneira exorbitante o preço final. Como se todo mundo pagasse o que for para compensar o tempo de confinamento e sem shows.
É preciso lembrar que, acrescido ao valor do ingresso, quem opta pela venda virtual, seja por comodidade ou falta de oportunidade de ir fisicamente à bilheteria, há uma taxa de 20%. O preço final chega a quase mil reais. Inconcebível e quase igualado ao salário mínimo. O entretenimento fica cada dia mais restrito.
O show do Måneskin está caro, muito caro, mas não é só ele. É todo um sistema que tem funcionado a privilegiados ou à base de muito sacrifício, visto que a roda voltou a girar, muitos artistas têm vindo ao país e está cada dia mais difícil acompanhar todos os ídolos. Os preços são injustos, injustificáveis e insensíveis, para dizer o mínimo.