Guillermo Rosas confirmou em entrevista no México que o RBD não tem mais datas suficientes para ampliar sua turnê no Brasil, que ficará apenas com os quatro shows – três em São Paulo e um no Rio de Janeiro – já anunciados na Soy Rebelde Tour. A pergunta que não quer calar é: por que os Estados Unidos têm cerca de 30 datas enquanto os brasileiros, que estão principal polo consumidor da banda, se contentarão com menos de uma mão completa de apresentações?
Vamos por partes.
A começar, houve péssima gestão na organização da série de shows. Seja por incompetência ou falta de tempo, contemplaram as cifras em detrimento da devoção. E vamos falar sobre mais adiante.
Na receita do bolo que não deu certo, acrescente o pouco tempo para todo o planejamento. Segundo Maite Perroni, a ideia nasceu em seu casamento, entre setembro e outubro do ano passado. Ou seja, entre o embrião e o nascimento, em 19 de janeiro, foram cerca de três meses.
O Allianz Parque, sede dos shows em São Paulo, é bastante concorrido pela indústria internacional de entretenimento, isso já é sabido. O Engenhão, no Rio de Janeiro, seria uma opção para a ampliação, assim como o Manaus, Fortaleza, Curitiba e Brasília, praças que tiveram movimentação pedindo shows do RBD.
Então, qual a razão para ficar no eixo Rio-SP? A resposta para essa pergunta, talvez, seja a chave para todo o resto: dinheiro. E não sejamos hipócritas por aqui. Garantir a aposentadoria aos 40 anos é um sonho, sim, e nenhum de nós agiria apenas por paixão. Mas fato é que muitos de nós consideraríamos a paixão.
A indústria de shows funciona em dólares. Nos EUA, é “dinheiro limpo”. Aqui no Brasil, a gente converte e não se diverte. Toda a estrutura e logística da turnê é cinco vezes mais cara. Há como barganhar, mas concorrer no mano a mano por datas com os americanos é covardia. Para que tivéssemos mais shows aqui do que lá, a tour deveria ter sido planejada com foco nos brasileiros. E não foi.
É justo que o RBD tenha mais shows nos EUA do que no Brasil?
A resposta é simples: não. E está baseada em números. No YouTube, os brasileiros são os maiores consumidores do material do RBD, com 7,4 milhões de views, seguidos por mexicanos (6,9 milhões) e colombianos (4,9 milhões). Os norte-americanos aparecem na quarta colocação, com 2,9 milhões de cliques nos últimos 28 dias.
Entre as cidades, a liderança é de Bogotá, seguida por Cidade do México e Lima. São Paulo está na quarta posição; Rio de Janeiro na oitava. Los Angeles, em décimo lugar, é a primeira americana na lista.
No Spotify, com 1,6 milhões de seguidores e 6,4 milhões de ouvintes mensais, nem Brasil, nem Estados Unidos figuram no TOP 5 de reproduções da banda: Cidade do México, Bogotá, Lima, Guadalajara e Santiago estão na liderança de streams. Não fosse a questão financeira, então, México deveria ser o país com a maior quantidade de shows, até por ser a casa do RBD, não é mesmo?
Mudança para o Morumbi pode ser a solução?
Nos últimos dias, surgiram rumores de que os shows do Allianz Parque, em São Paulo, seriam transferidos para o Morumbi, a exemplo do que fez o Coldplay. Os americanos tiveram de adiar a tour brasileira e já não havia mais data disponível no estádio do Palmeiras. A solução encontrada foi levar as apresentações para a casa são-paulina, aumentando a carga de ingressos.
No Allianz, a capacidade gira em torno de 50 mil ingressos, mas geralmente são disponibilizados 45 mil por questão de segurança. Sandy & Jr já colocaram 55 mil pessoas no local. No Morumbi, o número sobe para 67 mil. Ou seja, nos três shows em São Paulo daria para ter cerca de 60 mil entradas a mais à disposição do público.
Nem é preciso dizer que o número é insuficiente. A fila virtual para ingressos chegou a 700 mil. Além disso, a própria turnê do Coldplay mostra que o local é defasado para grandes eventos, com dificuldade de acesso, mobilidade, conforto e, principalmente, em dias de chuva se torna inviável.
O erro esteve lá no começo, no planejamento. Uma manobra dessas, a essa altura do campeonato, só pioraria a sensação de abandono do público brasileiro. Seria aceitar mixaria. Mais uma rodada de ansiedade na venda de ingressos.
É preciso aceitar que marketing e dinheiro venceram.
Quer a cereja do bolo? Muito provavelmente a tour de despedida vai ganhar DVD, registro em vídeo. E sabe de onde vai sair a maior parte das imagens? Do Brasil, que apesar dos pesares, sempre será a casa do RBD.